quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

MINHAS IMPRESSÕES DO MUNDO DIGITAL

Relutei muito em fazer este blog. Mas não há outro jeito de encontrar leitores. Reconheço que, se o inventor da imprensa inaugura um blog, o ato em si representa uma adesão ao coro dos que pregam que todas as publicações que utilizam o suporte de papel irão acabar logo, logo. Foi minha mulher (a mãe da imprensa) quem me convenceu de que já era hora de entrar para o mundo digital.
– Guti – disse ela –, a imprensa tem que se reinventar. E ninguém melhor do que você para fazer isso.
Ao me sentar de frente para o computador, vi que tinha um grande desafio pela frente. Como entrei para a história publicando, pela primeira vez, a bíblia, pensei em recriar o livro sagrado digitalmente. Minha mulher sugeriu que, antes de me meter em tal empreendimento, eu deveria consultar o Google para verificar se já não havia muitas versões na rede.
– Google?
– Sim, é uma ferramenta de busca.
– Hã, sei.
Vendo que a dúvida persistia, traduziu em uma linguagem mais simples:
– O Google, Guti, é uma espécie de oráculo que você pode perguntar qualquer coisa. Por exemplo: qual foi a escalação do Bayer de Munique de 1972? Onde eu encontro braçadeiras para fios de alta-tensão? Quem ficou com a Luana na semana passada? E quando o Google não encontra a resposta, é sinal de que você não formulou bem a pergunta.
Então, fui ao oráculo e perguntei: o que existe sobre a bíblia, querido oráculo? A resposta foi acachapante: 21.400.000 itens relacionados ao termo, sendo que a bíblia on-line ocupava todas as primeiras páginas do resultado da busca. Para aprofundar minha decepção, minha esposa me mostrou o Kindle, um aparato eletrônico que permite ler em sua tela milhares de livros.
– Guti, por que você não faz um blog? Já que você não pode mais fazer suas impressões, publique suas impressões sobre a vida. Se for bem acessado, pode até dar algum dinheiro.
O conselho da minha mulher me deu outra ideia.

Então, voltei ao oráculo e perguntei como ganhar dinheiro na Internet. O resultado foi mais animador: 97.600 respostas. Ainda não entendi como boa parte dos internautas não está rica com tanta informação disponível, mas isso também é outro assunto. Gostei de um link que prometia ganhar dinheiro sem sair de casa. Cliquei lá e eles pediam que eu desse os números do meu cartão de crédito para que eles me enviassem um livro impresso e um acesso on-line a todos os truques me fariam um novo magnata digital.
Enquanto preenchia a ficha com meus dados, fui interrompido por um aviso (que me incentivava a jogar num cassino) e por um banner (que me apresentava algumas mulheres que queriam me conhecer). Resisti a todas as tentações, menos à oferta de um aparelho que prometia aumentar minha vantagem competitiva em alguns centímetros. Mas isso é outro assunto, pequeno, mas outro assunto.
E assim fui me desviando de link em link. Depois de 15 minutos, nem me lembrava por onde havia começado a minha busca e nem o que estava buscando.
Fiquei angustiado. Parecia que eu sempre estava no site errado, que coisas muito mais legais se encontravam em outros endereços. Com isso, comecei a não ler por inteiro os textos que se apresentavam. Sobrevoava palavras, cortava frases, nada prendia a minha atenção. Exausto, procurei minha mulher e pedi:
– Preciso de um jornal, de uma revista. Pode ser até bem velha.